Durante quatro dias (31 de julho
a 02 de agosto) comunicadores e comunicadoras populares da Articulação
Semiárido Brasileiro (ASA) participaram da Oficina Regional de Comunicação
realizada no município baiano de Feira de Santana. O evento teve como objetivo
principal refletir coletivamente sobre a importância da comunicação na
desmistificação da visão estereotipada do Semiárido, reforçando os princípios
da convivência com a região e fortalecendo a ação em rede.
Cerca de 40 comunicadores (as)
dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, do Vale do Jequitinhonha e do Norte de
Minas Gerais, além de representantes de Pernambuco, Ceará e da Assessoria de
Comunicação da ASA (Asacom) participaram do encontro. A oficina contou com a
facilitação do fotógrafo humanista João Roberto Ripper, do projeto Imagens
Humanas e um dos fundadores da Escola de Fotógrafos Populares no Complexo da
Maré, no Rio de Janeiro.
Por meio de debates, rodas de
diálogo, visitas de campo, exibição de vídeos, exposição de fotografias e
exercícios práticos, o grupo pôde ser inserido no campo da comunicação popular
e refletir sobre o papel da comunicação dentro da concepção política da ASA e
de como ela dialoga com a prática do (a) comunicador (a).
No foco dos debates, a
comunicação como um direito humano, a importância da fotografia na construção
da história e na conquista dos direitos, além da criação dos estereótipos, que
acabam provocando a rotulação de pessoas, comunidades e países. “O estereótipo está sempre ligado a uma
relação de poder. Não mostrar a beleza das classes menos favorecidas é uma
função bem sábia do poder, seja político, industrial, comercial e de
comunicação”, avaliou Ripper.
Para a comunicadora da
organização CDJBC, do estado de Sergipe, Aparecida Amado, a ação do comunicador
(a) dentro das comunidades é muito importante e contribui no fortalecimento da
identidade dos povos do Semiárido brasileiro e na desconstrução dos
estereótipos criados pela mídia nacional de que a região é castigada pela seca
e de difícil acesso à água. “Uma vez uma agricultora me disse que o Sertão era
terra rachada, lugar pobre e seco. Quando perguntei de onde vinha essa visão,
ela afirmou que falava com base no que passava na televisão. Quando conversei com
essa senhora e expliquei que existiam inúmeras riquezas e possibilidades no
Semiárido, ela mudou sua imagem e disse que lá também era um lugar rico, onde
produziam alimentos e faziam muitas atividades”, disse Aparecida.
Entre as atividades da oficina houve
a exibição do vídeo-documentário da escritora nigeriana Chimamanda Adichie.
Através dele, os comunicadores e comunicadoras puderam perceber o quanto é
arriscado ouvir uma única versão das histórias.
“A história com um lado só beneficia a poucos ou a uma única pessoa”,
avaliou o comunicador da organização Agrocoop (BA), Higor Soares.
Imagens dos fotógrafos Cartier
Bresson e Eugene Smith foram exibidas durante a atividade, como exemplos de
profissionais que tinham um alto nível de domínio técnico e souberam fotografar
as pessoas respeitando a condição de cada um. Na análise das fotografias foram
dadas dicas sobre linguagem e técnica fotográfica. “Quando você suaviza um
pouco, você humaniza o processo e aproxima a pessoa de quem está olhando”,
explicou Ripper.
Visitas às famílias agricultoras
da comunidade do Canto – No terceiro dia da oficina, os comunicadores e as
comunicadoras conheceram experiências de convivência com o Semiárido no
município de Serrinha. As famílias agricultoras da comunidade do Canto, dona
Silvia de Jesus, Seu Adriano e dona Tereza Rocha, presidente da APAEB de
Serrinha (Associação dos Pequenos Agricultores Familiares de Serrinha) e líder
da comunidade, receberam os visitantes para uma manhã de bate-papo e troca de
experiências.
A agricultora familiar e
presidente da Apaeb Serrinha, Tereza Rocha, recebe a visita de comunicadores
(as) da ASA. | Foto: Gleiceani Nogueira/ Arquivo Asacom
Para Dona Tereza, a atuação dos
comunicadores (as) na comunidade contribui para a divulgação do trabalho das
famílias agricultoras, a exemplo da produção dos boletins candeeiros, que
contam boas histórias de convivência com o Semiárido. “Essas sistematizações
são importantes porque divulga o trabalho que nós temos aqui na comunidade e o
agricultor agora está sendo mais valorizado. Eu tô dizendo isso porque teve um
período que tinha atividade e ninguém dizia que era agricultor familiar. Mas,
agora não! Você chega nos eventos e a pessoa se apresenta e diz: sou agricultor
familiar com muito orgulho!....Quem inventou isso [boletim] está de parabéns
porque levantou a autoestima dos agricultores e agricultoras”.
Por: Ylka Oliveira - Asacom
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_NOTICIA=7917
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