04
de outubro de 2015
Nesta data, 04 de outubro, em que se celebra o dia
do Rio São Francisco é necessário e urgente refletir sobre a relação do rio com
o conjunto de bacias hidrográficas que contribuem para a sua grandeza cultural,
econômica e social.
O “Velho Chico” é um dos mais importantes rios do
Brasil. Da sua nascente, em Minas Gerais, até o encontro com o mar, ele passa
compondo a paisagem de diversas regiões dos estados da Bahia, Minas Gerais,
Pernambuco, Sergipe e Alagoas, serpenteando por mais de 500 municípios e
comunidades e beneficiando 14,2 milhões de pessoas. Daí a sua denominação de
rio da integração nacional. (fonte: Agência Nacional de Águas)
Seu percurso de quase
3.000 km é um caminho revelador de histórias, pelejas, causos, amores e
das religiosidades dos povos ribeirinhos. Um rio de importância econômica,
social e cultural para diversas comunidades, dentre elas indígenas e
quilombolas. Suas águas maltratadas pelo intenso processo de degradação, onde
esgotos desaguam em seu leito, o desmatamento constante de suas matas ciliares,
provocando o assoreamento, são expressões concretas do abuso indiscriminado
sofrido pelo rio. Esse é o reflexo da maneira como o estado brasileiro
administra seus recursos naturais, na contramão do discurso que o rio São
Francisco é considerado um dos principais fatores de desenvolvimento da região
nordeste, devido a sua importância para a agricultura e o aproveitamento da sua
força para a geração de energia.
Muitas são as narrativas em torno
das águas do velho Chico: a mãe d’água, o mergulhão, o cumpade d’água e o negro
d’água são alguns seres imaginários que moram nas profundezas de suas águas e
que costumam aparecer para pescadores. Daí a sua importância para a cultura
popular. As narrativas repassadas por gerações de barqueiros, pescadores/as e
ribeirinhos/as; as cantigas e rezas nas procissões das romarias da terra e das
águas, por homens e mulheres carregados de simbolismos, fazem dessas
iniciativas expressões de resistência e fé, percorrendo caminhos em meio à
vegetação que cresce no lugar onde já foi o seu leito, para oferecer-lhe um
gole d’água. Se o rio morre, morre com ele a cultura de um povo.
O velho Chico é também núcleos de
memórias. Em cada trecho, várias histórias de vida. Na contramão da velocidade
do que já foi a sua correnteza e pela abundância de suas águas e profundidade
de seu leito, hoje algumas embarcações estão fixadas nas areias de suas
margens. Ali se ancora também lembranças e memórias de tempo de farturas de
peixes e da vida movimentada no cais.
Diversas frentes de resistências formadas por
grupos populares, movimentos, pescadores, indígenas, pastorais e coletivos da
sociedade civil organizada nega a eficiência do projeto com suas estruturas
hídricas, implantadas em alguns trechos, fundadas em um discurso do estado
brasileiro pelo abastecimento de água às regiões com escassez hídrica,
denominado “Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas
do Nordeste Setentrional”. Segundo informações obtidas pelo site portal Brasil,
até o mês de julho de 2015, foi investido pelo governo brasileiro R$ 6,8
bilhões do valor total de R$ 8,2 bilhões, considerada a maior obra
de infraestrutura hídrica do País. (fonte:Portal Brasil)
Canal do
sertão em Delmiro Golveia
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Da poética entre as memórias e a atual situação do
rio, não pode deixar de falar das situações de tantos outros rios que o
alimentam, dando-lhe água de beber. Considerado como uma caixa d’agua, o
cerrado baiano compõe as importantes Bacias hidrográficas do Rio Grande e Bacia
do Rio Corrente que são ameaçadas diariamente pela monocultura e
desmatamento do cerrado, como plano de “desenvolvimento” adotado pelo estado
brasileiro, desde os anos 70. (fonte: Inema)
Bom Jesus da Lapa/BA |
Do significado inicial “rio-mar”
dado pela população indígena, talvez, na atualidade, essa alcunha não
corresponda mais, pois, para navegá-lo encontram-se enormes dificuldades por
ter se tornado estreito e assoreado. As suas vazantes já não são tão produtivas
o que diminui a produção de alimentos para sua população ribeirinha.
Diante do processo cumulativo de
degradação que vive o rio e suas bacias hidrográficas, a revitalização só se
dará se as populações ribeirinhas de forma organizada e mobilizada forem
efetivamente protagonistas para a mudança desta realidade.
Por Allan Lustosa
Fotos: Allan Lustosa e Kau
Dourado
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