A Campanha da Fraternidade nasceu
por iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese
de Natal, RN, como expressão da caridade e da solidariedade em favor da
dignidade da pessoa humana, dos filhos e filhas de Deus.
Assumida pelas Igrejas
Particulares da Igreja no Brasil, a Campanha da Fraternidade tornou-se
expressão de comunhão, conversão e partilha. Comunhão na busca de construir uma
verdadeira fraternidade; conversão na tentativa de deixar-se transformar pela
vida fecundada pelo Evangelho; partilha como visibilização do Reino de Deus que
recorda a ação da fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo
Jesus (Cf. 1Ts 1,3).
A Campanha da Fraternidade tem hoje os seguintes
objetivos permanentes:
01 – Despertar o espírito
comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os
cristãos na busca do bem comum;
02 – Educar para a vida em
fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
03 – Renovar a consciência da
responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção
humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e
todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja).
A coleta da Campanha realizada como um dos gestos concretos de conversão
quaresmal tem realizado um bem imenso no cuidado para com os pobres.
Ao percorrermos o itinerário da Campanha que nossos irmãos nos
prepararam, possamos continuar seguindo Cristo, caminho, verdade e vida (Cf. Jo
14,6).
Resumo do
texto-base da Campanha da Fraternidade 2016
08/11/2015/0 Comentário/em Campanhas CNBB, Fraternidade, CFE 2016,
Texto-base CFE 2016
TEMA:
“Casa comum, nossa responsabilidade”
LEMA: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça
qual riacho que não seca”.
Em 2016, o tema será “Casa comum, nossa responsabilidade” e
o lema bíblico apoia-se em Amós 5,24 que diz: “Quero ver o direito brotar como
fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”.
O objetivo principal da iniciativa será chamar atenção para
a questão do saneamento básico no Brasil e sua importância para garantir
desenvolvimento, saúde integral e qualidade de vida para todos.
Uma das grandes novidades desta quarta edição da campanha
ecumênica, é a participação da Misereor, entidade episcopal da Igreja Católica da
Alemanha que trabalha na cooperação para o desenvolvimento na Ásia, África e
América Latina. A colaboração acontece em vista do desejo dos organizadores em
transpor as fronteiras nacionais.
RESUMO DO TEXTO BASE
CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2016
INTRODUÇÃO
Pela quarta vez a Campanha da Fraternidade é realizada de
forma ecumênica. As outras três tiveram os seguintes temas:
Ano 2000
– Dignidade Humana e paz – Novo Milênio sem exclusões
Ano 2005 – Solidariedade e Paz – Felizes os que promovem a Paz
Ano 2010 – Economia e Vida – Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro
A Campanha da Fraternidade deste ano tem como objetivo
geral “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e
empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que
garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.
As reflexões sobre o saneamento básico contidas neste texto
base demonstram que esse é um direito humano fundamental e, como todos os
outros direitos, requer a união de esforços entre sociedade civil e poder
público no planejamento e na prestação de serviços e de cuidados. Por isso é
uma Campanha Ecumênica, pois a questão do Saneamento afeta não apenas
católicos, mas todas as pessoas, independente da fé que professem.
O abastecimento de água potável, o esgoto sanitário, a
limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos, o controle de meios transmissores
de doenças e a drenagem de águas pluviais são medidas necessárias para que
todas as pessoas possam ter saúde e vida dignas. Por isso, há que se ter em
mente que “justiça ambiental” é parte integrante da “justiça social”.
PRIMEIRA PARTE
As escolhas das atitudes para a preservação da vida no
planeta Terra devem ser orientadas por critérios coerentes com o propósito de
mais justiça e paz. Tais escolhas devem contribuir para a superação das
desigualdades e das agressões à criação. Por isso, hoje, as preocupações e
consequentes ações no âmbito do saneamento passam a incorporar não só questões
de ordem sanitária, mas também de justiça social e ambiental. É, portanto,
necessária e urgente que as ações para a preservação ambiental busquem também
construir a justiça, principalmente para os pequenos e pobres.
Estudos estimam que morre uma criança a cada 3 minutos por
não ter acesso a água potável, por falta de redes de esgoto e por falta de
higiene. Crianças com diarreia comem menos e são menos capazes de absorver os
nutrientes dos alimentos, o que as torna ainda mais suscetíveis a doenças
relacionadas com bactérias. O problema se agrava, pois as crianças mais
vulneráveis à diarreia aguda também não têm acesso a serviços de saúde capazes
de salvá-las. Ampliando a questão da saúde para todas as faixas etárias, em
2013, segundo o Ministério da Saúde (DATASUS), foram notificadas mais de 340
mil internações por infecções gastrointestinais no país. Se 100% da população
tivesse acesso à coleta de esgotos sanitários haveria uma redução em termos
absolutos de 74,6 mil internações.
Os últimos dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento Básico – base 2013) mostram que pouco mais de 82% da população
brasileira têm acesso à água tratada. Mais de 100 milhões de pessoas no país
ainda não possuem coleta de esgotos e apenas 39% destes esgotos são tratados,
sendo despejados diariamente o equivalente a mais de 5 mil piscinas olímpicas de
esgoto sem tratamento na natureza.
Alguns dados mundiais sobre o saneamento:
– No mundo, um bilhão de pessoas fazem suas necessidades a céu aberto.
– Mais de 4.000 crianças morrem por ano por falta de acesso a água potável e ao
saneamento básico.
– Na América Latina, as pessoas têm mais acessos aos celulares que aos
banheiros.
– 120 milhões de latino-americanos não têm acesso aos banheiros.
Alguns dados do Brasil sobre saneamento
– O Brasil está entre os 20 países do mundo nos quais as
pessoas têm menos acesso aos banheiros.
– Cada brasileiro gera em média 1 quilo de resíduos sólidos diariamente. Só a
cidade de São Paulo gera entre 12 a 14 mil toneladas diárias de resíduos
sólidos.
– As 13 maiores cidades do país são responsáveis por 31,9% de todos os resíduos
sólidos no ambiente urbano brasileiro.
Para onde vão todos estes resíduos?
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 do IBGE, divulgada em
2010:
50,8% foram levados para os lixões, local para depósito do lixo bruto, sobre o
terreno, sem qualquer cuidado ou técnica especial.
21,5% são levados para aterros controlados, local utilizado para despejo do
lixo bruto coletado, com cuidado de, diariamente, após a jornada de trabalho,
cobrir os resíduos com uma camada de terra, de modo a não causar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança, bem como minimizar os impactos
ambientais.
27,7% são levados para aterros sanitários, local monitorado em conformidade com
a legislação ambiental, de modo a que nem os resíduos nem seus efluentes
líquidos e gasosos venham a causar danos à saúde pública ou ao meio ambiente.
Um dado alarmante é que a América do Norte e a Europa
mandam seus resíduos sólidos para a África e, infelizmente, também para o
Brasil. Em 2009 e 2010 portos brasileiros receberam cargas de resíduos (LIXO)
domiciliares e hospitalares. Focando apenas no Brasil, os lixões e aterros sem
controle, localizam-se próximos ou em áreas de residência de populações pobres,
nas quais os habitantes são obrigados a conviver com a sujeira gerada pelos
demais moradores, resultando em injustiça ambiental.
SANEAMENTO
BÁSICO PARA ALÉM DA CIDADE
Se a situação já é precária no meio urbano, no meio rural
brasileiro é ainda mais absurda. Apenas 42% das moradias rurais dispõem de água
canalizada para uso doméstico. Os outros 58% usam água de outras fontes, porém,
sem nenhum tipo de tratamento.
Muitas habitações rurais são tão precárias que sequer
dispõem de banheiros ou fossas. Somente 5,2% dos domicílios rurais possui
coleta de esgoto ligado à rede geral e 28% possuem fossa séptica. Em 49% das
residências que possuem banheiro, o escoamento de fezes e urina corre por meio
de fossas rudimentares não ligadas à rede. Há 52,9% de residências que buscam
soluções rudimentares como valas ou despejo do esgoto diretamente nos cursos de
água. Há ainda 13,6% que não usam nenhuma solução.
Todos estes números revelam a falta de dignidade à vida das
pessoas que vivem nas áreas rurais. São 7,6 milhões (25% da população rural do
Brasil) que vivem em extrema pobreza. Por isso, o saneamento rural deve ser
implementado de forma articulada com outras políticas públicas, de modo a
superar o déficit de moradias, dificuldade de acesso à eletrificação rural e ao
transporte coletivo.
SANEAMENTO
BÁSICO E ÁGUA POTÁVEL, UMA RELAÇÃO VITAL
A água é o recurso mais abundante no planeta Terra, porém,
apenas 0,007% estão disponíveis para o consumo humano. O restante é constituído
por águas salgadas, geleiras e águas subterrâneas de difícil captação. O Brasil
é privilegiado em recursos hídricos, com 12% da água doce do mundo. Entretanto,
a escassez de água potável, que é hoje um problema crônico em diversas
regiões do mundo está gerando alertas também no nosso país.
É importante saber que cerca de 70% da água doce do Brasil
estão concentradas na região Norte, a menos populosa, enquanto que as regiões
Nordeste e Sudeste, com alta população, dispõem de pouca água. O risco de
desabastecimento em larga escala é uma ameaça não somente em áreas
tradicionalmente áridas, mas também nas grandes cidades.
Num futuro próximo, a busca pela água será capaz de
provocar disputas internacionais. Apesar da constatação da falta da água, o
Brasil é considerado o campeão de desperdício de água no mundo – a média de
desperdício da água potável nos sistemas de distribuição chega a 37%.