terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Fortalecendo a convivência

Dona Creusa Sampaio vive superando as dificuldades para garantir a renda familiar

É no Sitio Arco Iris, localizado na comunidade Boqueirão zona rural de Santa Terezinha, que reside a senhora Creusa Silva Sampaio. Nascida e criada na zona rural, ela conta que trabalhou em casa de família em Salvador, casou, teve quatro filhos e decidiu voltar para a roça. Hoje, com 47 anos de idade, é mãe de 04 filhos. Sempre dedicada, ela se dividia entre os cuidados com a família e a roça. Hoje, apenas Lucas Sampaio, o filho mais novo mora com ela e a ajuda em todas as tarefas. Dona Creusa não gosta de falar do passado sofrido, mas ela lembra que na comunidade não tinha água encanada, nem energia e buscava água nas fontes e quando faltava tinha que esperar o carro pipa fazer o abastecimento. O único meio de comunicação era o rádio de pilha. “Falar das minhas dificuldades é muito difícil, hoje eu ainda passo dificuldades, mas é dificuldade com a visão no novo horizonte”, afirma dona Creusa.
Ela lembra que anos atrás chovia muito mais, sobreviviam da roça e plantavamdiversos alimentos, como: andu, batata, feijão, mandioca aipim, pimenta malagueta, criava galinha, para vender parte destes produtose com a rendaajudar na criação dos filhos. Dona Creuza relembra que “quando era na época da seca não podia plantar nada, a gente criava galinha, porco, de maneira aleatória, ou seja, não tinha aquela organização. Porque agente só sabia fazer daquele jeito... Então a situação hoje, do que eu passava antes, está bem melhor, porque eu já não compro mais o frango, o ovo, já deixa de comprar em quantidade a carne do porco, a hortaliça mesmo, coentro, alface, pimentão, hortelã. Então, quando agente deixa de comprar essas coisas a gente economiza muito”. Para ela, um dos motivos dos prejuízos com a lavoura é o desmatamento para pastagem que contribuiu para a seca na região.
Outro produto que era cultivado pela família de dona Creusa no passado era o fumo. Essa produção resistia à estiagem e contribuía para a renda familiar quando terminava a colheita da roça, mas eles deixaram de produzir o fumo, pois refletiramque estavam contribuindo com a morte de outras pessoas. “Mas depois que eu entendi que eu estava contribuindo para que várias pessoas viessem a morrer ai eu parei”.
Dona Creusa sempre produziu de forma agroecológica: “Desde quando eu aprendi a pegar na inchada, aprendi com meus avós e com mãe que o produto químico mata os insetos depois mata você”. Ela conta que para combater as formigas espalha pela roça folhas de gergelim, tingui, mulungu e nin, pois quando essas folhas são levadas para o ninho entram em decomposição e as formigas se alimentam do fungo e morrem. Outro produto usado é a urina de vaca misturada com água para combater formiga, lagarta, gafanhotos, entre outros. Para a adubação do solo é usado o adubo dos frangos que ela cria. Atualmente, ela tem ao redor da casa o plantio de coentro, alface, cebolinha, pimentão, acerola e batata doce. O que é produzido na propriedade é usado na alimentação da família, e, além disso, é vendido no comércio local, feira livre e vizinhança. Já as sobras são usadas na alimentação dos animais, garantindo assim a segurança alimentar. Essa produção só é possível porque a agricultora construiu uma cisterna de consumo com recurso do PRONAF e armazena água da chuva e usa parte desta água para regar as plantas no período da estiagem.
A senhora Creusa não parou por aí. Em 2003 ela fez um curso de capacitação em apicultura e com o primeiro PRONAF, comprou cinco caixas e iniciou a captura das abelhas. “Eu comecei com 05 colmeias e cheguei a 100, depois foi pra 120, mais aí veio aquela seca, 02 anos mais ou menos atrás (2011/2012) eu perdi 90%,...as colméias foram embora porque agente aprendeu que a caixa é nossa, mas as abelhas não, ...mas depois a gente tentou recuperar novamente, recuperou quase todas”. Para ela, o trabalho com apicultura, que não é tão fácil, funciona como terapia, lembra ainda que a produção de mel é escoada para fora, pois no município as pessoas têm pouco hábito de consumir o produto.

A criação de galinha caipira é mais uma alternativa que a família encontrou para garantir a rendafamiliar com a venda dos ovos. Ela conta que a vantagem da criação da galinha caipira é que não precisa usarração, pois as galinhas comemmilho e folhas. Outra vantagem é que adoece menos eusa-semedicação caseira para prevenir. “É um desafio muito grande, mas aprendi muita coisa”. Após passar por algumas dificuldades no ano de 2011, a agricultora seguindo o conselho de um colega decidiutrabalharna criação dos frangos de corte. Esses animais têmuma alimentação bem balanceada com capim, milho, ração, folhagens, e com cinco meses estão ideal para o abate. O frango é comercializado no comércio local, restaurante, mercado e na comunidade.“Então hoje é assim, o carro chefe hoje aqui da família é o frango, agora que está chovendo agente está voltando a plantar, algumas coisas pretendo continuar assim que a cisterna sair. A situação vai melhorar”. Ela lamenta não poder aumentar a criação, pois não teria onde vender toda a produção, então a soluçãoseria vender para o atravessador que compraria por um preço bem menor.
Para complementar a renda familiar, a senhora Creusa investiu na criação de suínos, com 03 matrizes e 01 reprodutor. Isso porque quando os frangos estão pequenos ela vende os porcos. Ela conta que as fêmeas chegam a parir até 14 filhotes por vez, quando os mesmos completam 02 meses de vida são vendidos, pois a propriedade não conta com estrutura para engorda os animais. Para facilitar no preparo da alimentação dos animais criados no sítio, a agricultora comprou um motor para triturar o milho, que é acrescentado ao farelo de trigo. O restante dos alimentos sãoservidos para os porcos e demais animais criados por ela no quintal.
Ela relatou também os cuidados que deve ter com as plantas e os animais, aprendizado adquirido com os técnicos da COOTRAF (A Cooperativa de Assessoria Técnica e Educacional para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar), durante o período que a entidade prestou assistência técnica aos agricultores/as do município em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Para a melhoria de vida dos/as agricultores/as precisaria dar continuidadeà assistência técnica e organização comunitária e ressalta: “além da assistência técnica, porque a gente nunca sabe de tudo, precisa sempre está aprendendo. A gente precisa de uma organização, então a gente não pode ta aumentando a produtividade porque não temos um meio de escoamento, a gente não tem onde vender o produto em quantidade, então sem ter uma cooperativa, sem ter uma associação direcionada pra isso fica difícil”.

Dona Creusa será contemplada com uma Cisterna Calçadão com capacidade para 52 mil litros que será construída pela Cáritas Diocesana de Amargosa em parceria com o governo estadual através do Projeto Mais Água. Com a conquista do reservatório ela já faz planos de ampliar a produção de hortaliça, maracujá e acerola, como também plantar capim para voltar a criar ovelhas, pois com o aprendizado adquirido ela pode melhorar a produção e se preparar para enfrentar a seca. “Eu creio que com a chegada da cisterna vai ser excelente, tudo isso vai mudar. Então quando chegar o período seco meus animais não vão sofrer porque vou ta tendo ali o que tirar pra ta fazendo a ração pra dar pra eles”, afirma ela esperançosa.

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