Dona
Creusa Sampaio vive superando as dificuldades para garantir a renda familiar
É no Sitio Arco Iris, localizado na comunidade
Boqueirão zona rural de Santa Terezinha, que reside a senhora Creusa Silva
Sampaio. Nascida e criada na zona rural, ela conta que trabalhou em casa de
família em Salvador, casou, teve quatro filhos e decidiu voltar para a roça.
Hoje, com 47 anos de idade, é mãe de 04 filhos. Sempre dedicada, ela se dividia
entre os cuidados com a família e a roça. Hoje, apenas Lucas Sampaio, o filho
mais novo mora com ela e a ajuda em todas as tarefas. Dona Creusa não gosta de
falar do passado sofrido, mas ela lembra que na comunidade não tinha água
encanada, nem energia e buscava água nas fontes e quando faltava tinha que
esperar o carro pipa fazer o abastecimento. O único meio de comunicação era o
rádio de pilha. “Falar das minhas
dificuldades é muito difícil, hoje eu ainda passo dificuldades, mas é
dificuldade com a visão no novo horizonte”, afirma dona Creusa.
Ela lembra que anos atrás chovia
muito mais, sobreviviam da roça e plantavamdiversos alimentos, como: andu,
batata, feijão, mandioca aipim, pimenta malagueta, criava galinha, para vender
parte destes produtose com a rendaajudar na criação dos filhos. Dona Creuza
relembra que “quando era na época da seca
não podia plantar nada, a gente criava galinha, porco, de maneira aleatória, ou
seja, não tinha aquela organização. Porque agente só sabia fazer daquele jeito...
Então a situação hoje, do que eu passava antes, está bem melhor, porque eu já
não compro mais o frango, o ovo, já deixa de comprar em quantidade a carne do
porco, a hortaliça mesmo, coentro, alface, pimentão, hortelã. Então, quando
agente deixa de comprar essas coisas a gente economiza muito”. Para ela, um
dos motivos dos prejuízos com a lavoura é o desmatamento para pastagem que
contribuiu para a seca na região.
Outro produto que era cultivado
pela família de dona Creusa no passado era o fumo. Essa produção resistia à
estiagem e contribuía para a renda familiar quando terminava a colheita da
roça, mas eles deixaram de produzir o fumo, pois refletiramque estavam
contribuindo com a morte de outras pessoas. “Mas depois que eu entendi que eu estava contribuindo para que várias
pessoas viessem a morrer ai eu parei”.
Dona Creusa sempre produziu de
forma agroecológica: “Desde quando eu
aprendi a pegar na inchada, aprendi com meus avós e com mãe que o produto
químico mata os insetos depois mata você”. Ela conta que para combater as
formigas espalha pela roça folhas de gergelim, tingui, mulungu e nin, pois quando
essas folhas são levadas para o ninho entram em decomposição e as formigas se
alimentam do fungo e morrem. Outro produto usado é a urina de vaca misturada
com água para combater formiga, lagarta, gafanhotos, entre outros. Para a
adubação do solo é usado o adubo dos frangos que ela cria. Atualmente, ela tem
ao redor da casa o plantio de coentro, alface, cebolinha, pimentão, acerola e
batata doce. O que é produzido na propriedade é usado na alimentação da
família, e, além disso, é vendido no comércio local, feira livre e vizinhança. Já
as sobras são usadas na alimentação dos animais, garantindo assim a segurança
alimentar. Essa produção só é possível porque a agricultora construiu uma
cisterna de consumo com recurso do PRONAF e armazena água da chuva e usa parte
desta água para regar as plantas no período da estiagem.
A senhora Creusa não parou por aí. Em
2003 ela fez um curso de capacitação em apicultura e com o primeiro PRONAF, comprou
cinco caixas e iniciou a captura das abelhas. “Eu comecei com 05 colmeias e cheguei a 100, depois foi pra 120, mais
aí veio aquela seca, 02 anos mais ou menos atrás (2011/2012) eu perdi 90%,...as
colméias foram embora porque agente aprendeu que a caixa é nossa, mas as
abelhas não, ...mas depois a gente tentou recuperar novamente, recuperou quase
todas”. Para ela, o trabalho com apicultura, que não é tão fácil, funciona
como terapia, lembra ainda que a produção de mel é escoada para fora, pois no
município as pessoas têm pouco hábito de consumir o produto.
A criação de galinha caipira é mais
uma alternativa que a família encontrou para garantir a rendafamiliar com a venda
dos ovos. Ela conta que a vantagem da criação da galinha caipira é que não
precisa usarração, pois as galinhas comemmilho e
folhas. Outra vantagem é que adoece menos eusa-semedicação caseira para prevenir. “É um desafio muito grande, mas aprendi muita coisa”. Após passar
por algumas dificuldades no ano de 2011, a agricultora seguindo o conselho de
um colega decidiutrabalharna
criação dos frangos de corte. Esses
animais têmuma alimentação bem balanceada com capim, milho, ração,
folhagens, e com cinco meses estão ideal para o abate. O frango é comercializado no comércio
local, restaurante, mercado e na comunidade.“Então
hoje é assim, o carro chefe hoje aqui da família é o frango, agora que está chovendo
agente está voltando a plantar, algumas coisas pretendo continuar assim que a
cisterna sair. A situação vai melhorar”. Ela lamenta não poder aumentar a
criação, pois não teria onde vender toda a produção, então a soluçãoseria vender para o
atravessador que compraria por um preço bem menor.
Para complementar a renda familiar, a senhora Creusa
investiu na criação de suínos, com 03 matrizes e 01 reprodutor. Isso porque
quando os frangos estão pequenos ela vende os porcos. Ela conta que as fêmeas
chegam a parir até 14 filhotes por vez, quando os mesmos completam 02 meses de
vida são vendidos, pois a propriedade não conta com estrutura para engorda os
animais. Para facilitar no preparo da alimentação dos animais criados no sítio,
a agricultora comprou um motor para triturar o milho, que é acrescentado ao
farelo de trigo. O restante dos alimentos sãoservidos para os porcos e demais animais criados por ela no
quintal.
Ela
relatou também os cuidados que deve ter com as plantas e os
animais, aprendizado adquirido com os técnicos da COOTRAF (A Cooperativa de Assessoria Técnica e
Educacional para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar), durante o
período que a entidade prestou assistência técnica aos agricultores/as do município em parceria com o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Para a melhoria de vida dos/as agricultores/as
precisaria dar
continuidadeà assistência
técnica e organização comunitária e ressalta: “além da assistência técnica, porque a gente nunca sabe de tudo, precisa sempre está
aprendendo. A gente precisa de uma organização, então a gente não pode ta
aumentando a produtividade porque não temos um meio de escoamento, a gente não
tem onde vender o produto em quantidade, então sem ter uma cooperativa,
sem ter uma associação direcionada pra isso fica difícil”.
Dona Creusa será contemplada com
uma Cisterna Calçadão com capacidade para 52 mil litros que será construída
pela Cáritas Diocesana de Amargosa em parceria com o governo estadual através
do Projeto Mais Água. Com a conquista do reservatório ela já faz planos de
ampliar a produção de hortaliça, maracujá e acerola, como também plantar capim
para voltar a criar ovelhas, pois com o aprendizado adquirido ela pode melhorar a produção e se
preparar para enfrentar a seca. “Eu creio
que com a chegada da cisterna vai ser excelente, tudo isso vai mudar. Então
quando chegar o período seco meus animais não vão sofrer porque vou ta tendo
ali o que tirar pra ta fazendo a ração pra dar pra eles”, afirma ela
esperançosa.
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